God Eater 3 – o primo adolescente de Monster Hunter


A ideia de explorar um mundo onde a civilização como conhecemos não existe mais e os seres humanos precisam arcar com as consequências disso, recomeçando desde os primórdios, é algo realmente fascinante.

Além disso, brigar por sobrevivência, motivação moral, esporte ou meramente para reconhecer e libertar suas tendências primitivas são aspectos presentes na vida dos humanos quase que diariamente.

A Bandai Namco e o First Studio da Marvelous resolveram combinar essas duas características com grandes monstros e criaturas mitológicas em uma obra só: God Eater 3.

Brigas e lutas épicas, pós-apocalipse e criaturas gigantes, o que poderia dar errado? Prepare a arma de sua preferência e venha dar uma olhada no mundo caótico de God Eater 3.

Screenshot de God Eater 3
Imagem: PS4 Share

Introdução

 

A franquia God Eater, com o passar do tempo e novos lançamentos, se tornou mais conhecida por um grupo relativamente pequeno de jogadores, principalmente graças a God Eater 2, lançado originalmente para PSP e PS Vita. Para a sua sequência, a Bandai Namco resolveu focar em um lançamento para PlayStation 4 e PC. Muito comparada a Monster Hunter da Capcom (que, francamente, é o paralelo mais fácil e conhecido de ser feito), God Eater se destaca por seu estilo visual e temático bem mais próximo a um anime de ação, tendo maior foco na história.

God Eater 3 se passa em meados dos anos 2070, onde a humanidade é perseguida por um mal conhecido como “The Ashlands”, um tipo de areia ou cinzas formada por “Oracle Cells” que ao entrar em contato com os seres humanos é capaz de devorar suas células. Através desse processo, monstros gigantescos denominados Aragami são formados e dominam as vastas ruínas da antiga civilização humana cujo os sobreviventes se veem exilados a pequenos portos e caravanas.

Imunes a armas convencionais, os Aragami aproximam cada vez mais os humanos de sua extinção, mas com o poder da ciência, uma esperança aparece: os “God Arcs”, armas que com a ajuda das próprias Oracle Cells permitem certos humanos a se adaptarem, usarem força e habilidades sobre-humanas para combaterem os Aragami. Esses humanos são chamados de “God Eaters”.

Infelizmente, por entrar em contato com as “células oráculo”, os God Eaters são vistos como muito mais próximos dos monstros que enfrentam, e por isso são marginalizados pelos resquícios da humanidade. É aqui que você inicia a sua jornada.

Uma história “animezada”

Screenshot de God Eater 3
(Imagem: PS4 Share) Gódíter Desu Pennywort, ao seu dispor.

No controle de um dos God Eaters, você escolhe seu nome, código de identificação, características físicas e é jogado em uma cela com companheiros, à mercê dos trabalhos que o Porto lhe demanda. Marginalizados, os God Eaters tentam ajudar uns aos outros na esperança de um dia escaparem de sua prisão, algo que pode estar mais perto do que eles pensam…

Como God Eater 3 se trata de um jogo tão recente, não vou me aprofundar com relação à história. Ela é definitivamente tratada como um dos focos do jogo, com direito a diversas cinemáticas usando os gráficos do próprio jogo e até algumas animadas, se assemelhando a um anime. Não é necessário ter jogado os jogos anteriores para entender a história, mas isso proporcionará uma maior compreensão do universo da série.

Screenshot de God Eater 3
Imagem: PS4 Share

Dito isto, a história de God Eater 3 é algo que você provavelmente já viu dezenas de vezes em outros animes de ação. Isso não quer dizer que ela seja ruim, mas sim que praticamente todos os “chavões” de um anime de ação estão presentes aqui, deixando a história previsível.

Visualmente, God Eater 3 é um jogo realmente bonito, contando com ambientes bem detalhados e personagens bem distintos, sendo todos fáceis de lembrar como resultado disso, apesar das enormes quantidades de “fanservice” gratuito, visível principalmente nas roupas das personagens femininas, o que pode ser tão contrastante que até certo ponto chega a incomodar.

Screenshot de God Eater 3
Imagem: PS4 Share

Ação rápida, frenética e customizada

 

O jogo roda em cerca de 30 quadros por segundo (“fps”) cravados em todos os momentos. Apesar de não rodar em 60 fps, não existem problemas notáveis de queda de quadros, algo que deixa o título perfeitamente fluido durante todo o percurso.

Infelizmente não há muito o que se dizer da música. Se resume em uma trilha sonora orquestral cheia de coros que faz seu trabalho mas não se destaca.

Quanto à jogabilidade, em God Eater 3 o jogador combina ataques fortes e fracos, enquanto cuida de seu nível de estamina gasto com saltos, esquivas, corrida e golpes fortes. Se compararmos a Monster Hunter, o jogo é visivelmente mais rápido e frenético, contando inclusive com uma manobra para se lançar diretamente a um alvo, bem ao estilo de Shingeki no Kyojin (Attack on Titan).

São necessários alguns minutos para se adaptar à jogabilidade, mas é bem empolgante poder desviar de um ataque inimigo, se lançar em direção ao mesmo em alta velocidade e desferir vários golpes enquanto no ar, terminando com um golpe em queda que causa um impacto ao seu redor.

Imagem: PS4 Share

A arma do jogador também pode se transformar em uma arma de fogo, consumindo um medidor de munição próprio, e um escudo, útil para reduzir o dano de ataques inevitáveis. Múltiplos tipos diferentes dessas formas estão à sua disposição desde o início, abrindo bastante espaço para customização, melhorias e construção de novas armas com atributos diferentes.

Cada arma possui suas vantagens e desvantagens, como maior mobilidade ao custo de menos dano infligido, poder elemental de fogo, gelo ou trovão, ou grande alcance lateral ao custo de pouco alcance frontal. E isto não é só: as opções de customização são vastas, incluindo habilidades especiais dentro de cada arma escolhida e próprias do personagem, habilidades extras para os membros de sua equipe, dentre VÁRIAS outras, fazendo com que God Eater 3 possua uma grande abrangência para acomodar diferentes estilos de jogo.

Infelizmente, é neste ponto que os problemas de God Eater 3 começam a se mostrar.

Missão após missão após missão…

 

O jogo se dá na seguinte fórmula: você começa em sua base de operações, escolhe uma missão, seleciona seus parceiros de combate (até três, sendo personagens de inteligência artificial ou outros jogadores através do multiplayer online), derrota os monstros necessários, volta para sua base e vê se alguma nova cinemática move a história.

Isso é o jogo inteiro. E God Eater 3, só em suas missões principais, tem uma duração de aproximadamente 30 HORAS.

Screenshot de God Eater 3
(Imagem: PS4 Share) TRINTA HORAS DISSO!

Todas as missões, não importa qual o contexto dado, envolvem monstros específicos que muitas vezes se repetem ou se tratam do mesmo, só que com cor ou elemento natural diferente.

É aqui que a imensidão de opções de God Eater 3 entraria, certo? Bom, enquanto a quantidade de opções do jogo parece dar várias opções de customização para jogadores experimentarem, as diferenças práticas de cada arma são tão sutis que a jogabilidade praticamente não muda, mesmo que os golpes pareçam visualmente diferentes. E não é apenas com relação às armas: todas as milhares de opções de customização, em teoria, serviriam para detalhes como esquiva aprimorada, maior dano ou maior defesa, mas seu impacto é tão pequeno que é quase imperceptível.

Durante as missões, os monstros podem entrar em um estado de fúria, ficando temporariamente mais fortes e com poder para causar alto dano ao “devorarem” os jogadores. Eles possuem pontos fracos em seus corpos que podem ser quebrados (como pernas, garras ou uma arma que o monstro use) e até mesmo fogem do local se estiverem em perigo, dando um sentimento de caçada às missões.

Screenshot de God Eater 3
Imagem: PS4 Share

Os ambientes onde os monstros habitam são visualmente distintos e detalhados, mas no fim das contas pouco se diferenciam funcionalmente. Atravessar cada um dos mapas sempre se dá do mesmo jeito e no mesmo ritmo, fazendo com que, mesmo com as diferenças visuais, os mapas deem a impressão de serem os mesmos.

Sim, você PODE ir atrás de materiais para melhorar seu equipamento, mas os materiais são apenas itens com o mesmo visual espalhados em lugares aleatórios. Sim, você PODE ir para uma fonte de rejuvenescimento para recuperar sua vida e planejar uma estratégia, mas ela praticamente sempre será a mesma. Sim, você PODE quebrar partes dos monstros, teoricamente dando aos jogadores uma vantagem em combate, mas as habilidades deles não são afetadas — e se são, o fazem de um jeito que, novamente, é tão sutil que é quase imperceptível (de todos os monstros que enfrentei, só consigo lembrar de DOIS que notei uma verdadeira diferença).

Screenshot de God Eater 3
Imagem: PS4 Share

Companheiros sem comunicação

 

Jogando solo por boa parte da experiência, pude notar que a inteligência artificial dos personagens funciona bem e em grande parte das missões sua pele deverá ser salva muitas vezes por eles caso você cometa deslizes. Certos personagens se especializam em diferentes tipos de jogabilidade, como ataque de frente, foco maior em suporte com itens de cura, melhorias em conjunto ou tiros à distância.

Em certas situações, é possível que dois personagens segurem a barra contra um monstro enquanto você e outro personagem tentam derrotar outro monstro no mesmo mapa, mostrando que os jogadores não precisarão se preocupar muito em ter que “carregar nas costas” seus companheiros. Digo ainda que, se você tiver bastante paciência e souber manipular a IA suficientemente bem, é possível colocar todos eles para fazer o trabalho por você: lutar sozinhos contra os monstros e deixar você apenas relaxando e observando de longe.

Screenshot de God Eater 3
Imagem: PS4 Share

Infelizmente, não existem opções de comandos específicos para seus companheiros, o que pode complicar as coisas em momentos como quando um monstro foge e você quer persegui-lo, mas os seus camaradas estão muito ocupados caçando um outro monstro menor, deixando você sozinho. Eles só irão atrás de você no momento que você cair.

A opção de dar comandos ou falas simples para coordenar seu grupo ou expressar sua opinião em um jogo online é algo que vem sido implementado em diversos jogos com foco em multiplayer, mesmo que através de gestos, como Dark Souls, The Legend of Zelda: Triforce Heroes ou até Metal Gear Solid: Peace Walker, e mesmo assim está surpreendentemente ausente de God Eater 3… a menos que você esteja na tela de seleção de missões, aí sim você tem gestos como concordar, discordar ou até uma dancinha BEM específica e famosa no Japão, mas… só no menu. Por que não nas missões? Sabe, nos momentos que seria REALMENTE importante???

Jogar em multiplayer online pode negar alguns problemas lógicos que são gerados pelos companheiros de inteligência artificial, mas a ausência de qualquer meio de comunicação básico como gestos ou frases prontas ainda faz bastante falta.

Quantidade acima de qualidade

 

Acho que a esse ponto, o problema de God Eater 3 está claro e pode ser resumido no seguinte: falta de profundidade. Por se focarem tanto em oferecer uma quantidade muito grande de monstros, armas, habilidades e customizações, o jogo acaba por não aprofundar ou refinar os principais pontos que tornariam God Eater 3 em um jogo singular, deixando a experiência desapontadora no final.

A ambição de dar um jogo customizável que qualquer um pode construir o personagem que quiser com o estilo que quiser é visível e extremamente louvável, mas por preferir quantidade a qualidade, God Eater 3 fica repetitivo e cansativo muito rápido, e toda a quantidade de opções acaba por perder a “magia”, esvaindo o interesse dos jogadores a tal ponto que o prazer de passar horas e horas pegando materiais para criar uma arma nova ou finalmente derrotar aquele monstro com a fraqueza dele seja quase nulo. Ao fim de uma missão, não há uma sensação de triunfo ou sorriso de satisfação, e sim um suspiro de alívio pelo fato de que a missão finalmente acabou.

Se compararmos à franquia Monster Hunter, como, por exemplo, em Monster Hunter 3 Ultimate (o último que eu pessoalmente joguei), todas as armas possuem habilidades distintas e visíveis, o que muda completamente a jogabilidade de uma arma para a outra, inclusive em novas armas que são construídas pelo jogador. Em Monster Hunter 3 Ultimate, os mapas são todos feitos com propriedades diferentes e de tal modo que pareça um ambiente vivo, de modo que certos itens só podem ser adquiridos em pontos específicos e os monstros encontrados realmente parecem fazer parte dos ambientes. Em God Eater 3, os itens são todos pontos brancos brilhantes espalhados por pequenos cantos das fases aleatoriamente, e é possível encontrar um monstro vulnerável a gelo em uma CAVERNA DE GELO!

Não é minha intenção aqui comparar as duas franquias, mas sinto que esses exemplos fortalecem bem a compreensão de como esse estilo de jogo já foi feito anteriormente com uma execução melhor e que é desapontante que a Bandai Namco não tenha pego essas boas referências para fazer um jogo que poderia ser ainda melhor.

Screenshot de God Eater 3
(Imagem: PS4 Share) Aragami: Quadriga. Local: Caverna de gelo. Fraqueza: Gelo.

Em conclusão, God Eater 3 é um jogo bonito, com personagens memoráveis e bastante ambicioso, mas que em tamanha ambição acaba sacrificando aspectos que o tornariam um jogo realmente muito bom. Com sua estrutura de missões, é um jogo que estaria mais adequado à cena dos portáteis, assim como seu antecessor God Eater 2: Rage Burst era. É uma pena que mesmo isso não corrigiria seus problemas.

Este é um jogo cujo destino é inerentemente ficar repetitivo, problema que também assombra seu primo distante Monster Hunter, mas com uma campanha de 30 horas de jogabilidade com pouca profundidade e com tamanha falta de impacto com relação às suas customizações. 


God Eater 3 é um título que só recomendaria àqueles que já são grandes fãs da saga, bem como para um público muito específico que realmente curta esse estilo, sem se importar com horas de repetição.

O que podemos esperar é que a Bandai Namco busque mais referências do gênero — inclusive além do óbvio Monster Hunter — para nos trazer um futuro God Eater 4 que supere completamente seu antecessor, ou pelo menos seja um passo na direção certa.

Análise produzida a partir de uma cópia digital cedida pela Bandai Namco

Versão utilizada para análise: PlayStation 4 (base)

 

Artigo escrito por: Ítalo Magno

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