.hack//G.U. Vol. 1//Rebirth – a magia do MMO offline | #DensetsuIndica


Capa de .hack//G.U. Vol.1//Rebirth

A maioria das pessoas nascidas nos anos 90 ou mesmo 2000 teve contato com MMORPGs. Ragnarok Online, Mu Arena, World of Warcraft, entre muitos outros, nos davam a sensação mágica de viver outra vida em outro mundo. Quantas amizades não nasceram nesses mundos virtuais, quantos namoros que saíram da tela para a vida real, não é mesmo? O sentimento oferecido por um MMORPG sempre foi completamente diferente de um RPG offline. Todos se emocionaram com a Aerith em Final Fantasy VII mas sabíamos que ela era só uma personagem fictícia. Como seria sua empatia com uma Aerith que fosse na verdade um ser humano através de outro computador?

A diferença entre jogos online e offline é bem clara mas, em 2006, a desenvolvedora CyberConnect2 resolveu testar quão distintos esses gêneros eram entre si. Com o lançamento de .hack//G.U. vol. 1//Rebirth, a imersão em jogos de RPG foi além, e é sobre esse game que iremos falar no Densetsu Indica de hoje!

.introdução//


Nesse RPG de ação, o jogador assume o papel do jovem Haseo, um dos jogadores de um MMORPG chamado “The World”, tendo acesso não somente às aventuras dentro do jogo online mas também ao computador do adolescente, incluindo seus emails, fóruns, feeds de notícias, wallpapers, músicas e até mesmo um outro game que o rapaz gosta, o “Crimson Versus”.

Screenshot de .hack//G.U. Vol. 1 Rebirth

Era um novo patamar para um RPG tradicional, uma experimentação com a nossa percepção de universos paralelos já que conforme o jogo avançava, o jogador era tomado por uma sensação de vida dupla. Não demorava até que a empatia com os outros personagens fosse muito superior ao que sentíamos por seres fictícios em comparação com pessoas reais e isso começava com a história de Haseo e seu motivo para jogar tanto o The World.

.prólogo//


Alguns meses antes do início do Vol. 1, Haseo fazia parte de uma guilda dentro do MMO chamada “Brigada do Crepúsculo”, cujo propósito era encontrar os “Epitáfios do Crepúsculo”; itens que de acordo com lendas dentro do jogo poderiam conceder qualquer desejo ao seu detentor. Junto com Ovan, Shino e outros amigos, Haseo passou a gostar cada vez mais do The World e encontrar naquele mundo um refúgio de seus problemas no mundo real.

Ao longo de vários meses de jogatina, Haseo foi aprendendo muito com o líder Ovan e desenvolvendo sentimentos pela clériga Shino, porém Haseo vê tudo ruir diante de seus olhos quando testemunha Shino sofrer um “PK” (player kill, morte por ataque de outro jogador) de alguém misteriosamente poderoso chamado de Tri-Edge pelo protagonista. A grande tragédia não foi o simples PK, já que em circunstâncias normais o jogador apenas reapareceria no ponto de retorno mais próximo, mas sim o que aconteceu depois da personagem de Shino ter sido atacada. Claramente agonizando no mundo real, a personagem de Shino começa a apresentar glitches gráficos e desaparecer, anunciando a tragédia que estava por vir após aquele PK. A Shino da vida real havia entrado em um estado de coma profundo.

Screenshot de .hack//G.U. Vol.1 Rebirth

Completamente desolado, Haseo procura o líder da Brigada do Crepúsculo, Ovan, somente para descobrir que o mesmo desapareceu completamente. Com medo do que aconteceu com Shino e sem rumo graças ao sumiço de Ovan, a guilda é desfeita e cada vez mais jogadores começam a sofrer ataques como Shino. A CC Corp., empresa responsável pelo The World, decide relançar o jogo numa versão “livre de vírus e ameaças” e oferece ajuda financeira às vítimas da então nova doença chamada “síndrome dos bonecos”, que parece atingir o cérebro dos jogadores e levá-los a um estado vegetativo.

Determinado a encontrar a cura para Shino, Haseo inicia uma caçada constante por Tri-Edge e se torna um “PKK”, um matador de PKs. Buscando eliminar o maior número de PKs possível até chegar ao seu alvo, o poderoso jogador que atacou Shino naquele fatídico dia. Ganhando fama tanto positiva quanto negativa dentro do The World, Haseo atinge um nível de poder invejável e então recebe um e-mail suspeito de ninguém menos do que Ovan, o antigo líder da Brigada do Crepúsculo. O conteúdo da mensagem dizia para Haseo voltar ao lugar onde tudo começou, onde Shino foi atacada. Consumido pela ira, ele se dirige até o mapa secreto chamado Hulle Grantz Cathedral e reencontra Tri-Edge, que mesmo diante do novo Haseo não parece sequer sofrer danos de seus ataques.

Animação de .hack//G.U. Vol. 1//Rebirth

Haseo sofre o mesmo destino de Shino, sendo derrotado com o mesmo ataque usado contra sua amiga. Mas ao invés de entrar em coma, seu desktop e conta são completamente formatados. Sem itens, sem dinheiro, sem equipamentos e de volta ao nível 1, assim começa .hack//G.U. Vol. 1//Rebirth.

 

personagens_ou_pessoas_reais?


O ponto forte de .hack é, sem sombra de dúvida, a profundidade dos personagens. As pessoas que Haseo conhece em sua jornada nos três jogos da franquia têm personalidades extremamente palpáveis e conforme a história avança vão mostrando ser muito mais do que apenas parceiros em batalha. Alguns desses personagens merecem destaque:

Atoli

Eu fiz o que eles queriam, senão eles iriam me deixar. Eles não queriam alguém como eu.

Arte da personagem Atoli em .hack//G.U. Vol. 1//Rebirth

É muito interessante como .hack//G.U. nos faz pensar como Haseo. A relação com Atoli é uma boa maneira de perceber isso, já que ela começa como alguém que irrita Haseo por lembrar Shino fisicamente e agir de uma maneira completamente diferente dela. Por razões narrativas, o jogador acaba não gostando tanto da personagem no início, ao menos no primeiro jogo da trilogia, mas por meio dos e-mails que ela troca com Haseo e o envolvimento dela com a história principal, tanto o jogador quanto o próprio protagonista mudam sua maneira de enxergar Atoli.

Focada em sempre ajudar os outros e com um coração cheio de bondade, a garota parece apenas boazinha demais e causa uma sensação de monotonia quando participa dos diálogos. Na verdade, Atoli tem problemas sérios na vida real, especialmente em sua vida escolar e na maneira como se relaciona com seus pais. É um retrato realista de uma adolescente japonesa que é constantemente cobrada por todos ao seu redor. The World é onde Atoli pode ser ela mesma e impedir que pessoas sofram como ela sofre na vida real. É onde a menina se sente genuinamente livre e utiliza essa liberdade em prol da comunidade do game.

Gaspard

Esse não é o The World que eu quero jogar! Eu odeio isso!

Arte do personagem Gaspard em .hack//G.U. Vol. 1//Rebirth

Ele é o que toda criança devia ser. Gaspard está no The World somente porque quer se divertir e age como uma quebra na constante seriedade que Haseo exala em cena, ele aparenta ter uma idade bem inferior à do protagonista e em certo momento menciona ser um estudante do ensino fundamental.

A inocência do personagem mais tarde provoca um sentimento de urgência em resolver os problemas do The World já que pessoas como ele correrão perigo com os últimos acontecimentos.

A existência de Gaspard em .hack//G.U. lembra Haseo de que apesar dos horrores que viveu nos últimos meses, aquilo continua sendo apenas um jogo para algumas pessoas.

Endrance

Amar alguém não é fechar os olhos para os outros nem tapar os ouvidos para a verdade…

Arte da personagem Endrance em .hack//G.U. Vol. 1//Rebirth

Endrance é de longe um dos personagens mais interessantes de toda a trilogia. O personagem está diretamente ligado aos acontecimentos recentes do The World e sabe sobre a fonte do problema, sendo apresentado como um dos primeiros vilões do jogo. Apesar da urgência em derrotá-lo e descobrir mais sobre a causa da síndrome, o jogador consegue perceber que algo não está perfeitamente claro na maneira como Endrance age, ocasionalmente falando “sozinho” e declarando seu amor e devoção por “ela”.

A verdade é que o personagem sofreu uma perda tão grande quanto Haseo e apegou-se a algo perigoso para preencher o vazio de sua perda. Mais tarde, o protagonista o liberta de sua ilusão e introduz Endrance ao seu grupo, onde ele reencontra o amor.

Esses são apenas alguns dos personagens que se destacam na trilogia. Todos, sem exceção, passam a ideia de serem pessoas reais jogando The World e em certos momentos fica difícil discernir se .hack//G.U. é um jogo online ou offline. Se você jogar e não amar a Alkaid, jogue denovo porque você jogou errado…

.política//Ética


Como dito anteriormente, o jogador tem acesso ao desktop de Haseo e tal funcionalidade vai muito além de um simples gimmick. Dentro dos fóruns que o jogador pode acessar e até mesmo nos e-mails enviados entre os personagens, o jogo aborda questões que eram muito à frente de seu tempo. Existem tópicos sobre uma mãe preocupada com a quantidade de horas que seu filho passa na internet, a colonização da lua pelos seres humanos, uma possível terceira guerra mundial onde drones seriam as armas principais e até um caso bizarro onde dois jogadores de The World se apaixonam e quando decidem se encontrar na vida real descobrem que são mãe e filho.

Screenshot de .hack//G.U. Last Recode
“>A mãe do Endrance é tão gorda que…”

O feed de notícias acompanhado por Haseo apresenta esses casos e os fóruns são o que nos dias de hoje chamamos de comentários. Lembrando que .hack//G.U. foi lançado em 2006 e a maioria das tecnologias citadas nas notícias eram apenas protótipos. Um fator muito interessante no que diz respeito à isso é o fato de The World ser jogado por meio de uma plataforma que lembra muito os óculos de realidade virtual que temos hoje porém com portabilidade. Uma discussão muito forte dentro do jogo é como as pessoas que jogam The World na rua parecem zumbis com os equipamentos acoplados no rosto.

Como se a riqueza dos diálogos fora do The World já não bastasse, absolutamente todos os usuários dos fóruns podem ser encontrados dentro do jogo e interagem diretamente com o jogador, seja fazendo comentários sobre o assunto que estão interessados, dando itens de presente ou fornecendo informações sobre The World. Tudo que cerca .hack//G.U. é humano.

>Jogue a trilogia


De maneira geral, a franquia vale ser revisitada atualmente, especialmente se você possui um PlayStation 4 já que a CyberConnect2 lançou um remaster da trilogia chamado .hack//G.U. Last Recode que inclui os três jogos em HD, mecânicas melhoradas e um novo episódio que é um curto epílogo do último jogo da trilogia do PS2.

Se você gosta de jogos como os das franquias Persona e Shin Megami Tensei, onde os personagens são fáceis de se apegar e se desenvolvem de maneira interessante, a franquia certamente é uma boa pedida.

Espero ter despertado sua curiosidade com esse Indica! Qualquer dúvida que surgir sobre o game pode ser sanada aqui na seção de comentários do site. Aliás, não nos culpe se você voltar a jogar MMORPGs depois de finalizar a franquia, hein!

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Principimi

Estudante de Letras - Japonês na Cruzeiro do Sul; formado em paleografia na oficina Sérgio Buarque de Holanda e em design pela Saga. Prefere jogos narrativos, RPGs ou de ritmo. Atualmente passa horas jogando indies e RPGs no Switch ou sustentando seu vício em gachas de celular. Tem como franquias favoritas Fire Emblem, Pokémon, Persona e Final Fantasy. Enciclopédia humana de Love Live e garota mágica nas horas vagas.