Pensando sobre Ace Combat: O azul do céu não é para todos


Jogos com tema de guerra sempre foram populares, desde os clássicos Contra e Medal of Honor, até o recente Rainbow Six. Contudo, uma franquia iniciada em 1995 sob o nome de Air Combat (mais tarde, Ace Combat) tornou-se uma obra de nicho com os anos.

A série era produzida pela então Namco, antes de sua fusão com a Bandai, que, ao receber críticas técnicas sobre o primeiro jogo, resolveu reformular a série. Com os talentos de Masanori Kato (Arms), a franquia passou a receber um tratamento mais cuidadoso e se preparar para a retomada.

Ace Combat disco ps1

Assim, em 1997, a empresa lançou seu segundo game de combate aéreo, intitulado Ace Combat 2, para PlayStation. Com qualidade gráfica superior, mais aeronaves e controles muito mais responsivos que seu antecessor, o jogo foi o primeiro passo para a franquia.

Um breve relato de como ganhei minhas asas

Como um rapaz que cresceu ao lado de uma base aérea das forças militares, era até comum ver garotos mais velhos fardados caminhando pelo bairro. Mais tarde, também era possível ver alguns aviões levantando voo da base, algo que eu olhava com fascínio pela janela da escola durante as aulas.

BASP

Quando o Xbox 360 se popularizou entre meus amigos, ouvia-se falar bastante sobre jogos de tiro em primeira pessoa. Apesar do interesse na nova geração e a vontade de jogar um “codzinho” com meus colegas de classe, eu só tinha acesso a um velho PlayStation 2.

Dessa forma, meu primeiro contato com jogos de guerra foi com duas franquias aclamadas: Metal Gear e Medal of Honor. Apesar de ter me tornado um verdadeiro fã de Snake e suas peripécias, foi Medal of Honor Vanguard que despertou minha paixão por algo bem específico: aviões.

F-5 FAB

Eu nunca pensara sobre como os pilotos e tripulantes se sentiam quando estavam no céu. Quando um modesto caça F-5 levantava voo, eu via aquilo como o pequeno Ash viu o magnífico Ho-Oh. A ideia de que pessoas estavam ali dentro nunca passou pela minha cabeça, sabe-se lá por qual razão.

Foi enquanto eu procurava novos jogos do tipo para continuar aproveitando meu console da geração passada, que me deparei com uma capa abrigando um caça que eu nunca tinha visto. O título dizia “Ace Combat 5: The Unsung War” e o disco estava bem afastado dos demais, como se ninguém tivesse interesse.

Ace Combat 5 gameplay

Ao jogar meu primeiro título da franquia, a primeira impressão não foi muito boa. Haviam dois tipos de controles: normal e especialista, o que não me dizia muito. De acordo com o jogo, a jogabilidade normal ajudava a manter a aeronave estável, enquanto a especialista permitia que se controlasse o avião com mais liberdade. Bem, toda essa liberdade me deixava tonto.

O jogo era difícil, mas não de uma maneira opressora, com inimigos fortes ou coisa do tipo, o problema era entender onde eu estava no céu. Diferente de viajar de avião, onde turbulências já parecem demais, coisas como “estol”, gelo nas asas e, claro, mísseis, eram completamente novas. Apesar de tudo, com algumas horas de tentativas frustradas, finalmente eu peguei o jeito.

Ace Combat 5 Wardog Squadron

Agora calmo e tendo domado a fera que pilotava, pude reparar no enredo do jogo. Eu era “Blaze”, um piloto em treinamento que tinha três colegas, também estudantes. Assim, Hans “Archer” Grimm, Kei “Edge” Nagase e Alvin “Chopper” Davenport voavam ao meu lado. Éramos guiados pelo carismático capitão Barlett, chamado nos ares de “Heartbreak”.

Durante um voo de treinamento, nosso esquadrão é atacado por uma aeronave desconhecida, que acaba por abater o capitão. Sem armamento e em pânico, focamos nossos esforços em fugir de maneira relutante, enquanto nos comunicávamos com a base, pedindo a extração de Heartbreak, que caíra no oceano. A resposta recebida fora de que uma guerra começara.

Ace Combat 5 nuggets

Até aquele momento, nada me encantava muito. Controlar a aeronave ainda era complexo, apesar de conseguir me manter no ar, mas o fato dos outros pilotos e a base se comunicarem tanto comigo era curioso. Claro, era um jogo de PlayStation, então a interação era limitada a responder sim ou não usando comandos no direcional.

Com o passar do tempo fui aprendendo bastante sobre tipos de aeronave como “fighter”, indicadas para combate; “bomber”, feitas para neutralizar alvos terrestres, entre outros. Assim, quando a guerra de fato começou e a história tornou-se clara em seu curso, eu finalmente entendi que tipo de jogo era aquele.

Ace Combat 5 esquadrão

Barlett continuava desaparecido e, em tempos de paz, poucos pilotos estavam disponíveis para assumir seus manches numa guerra surpresa. Dessa forma, Blaze é apontado como novo capitão, com seus antigos colegas como seus companheiros de esquadrilha. A partir de meu próprio avião, eu seria responsável por outros três seres humanos com personalidades interessantes, um ponto forte da série.

Apesar da profundidade na narrativa de Ace Combat 5, muitos detalhes passaram despercebidos por eu ter começado no quinto jogo da série. Assim, vou explicar de maneira resumida um pouco da vasta e bem elaborada história da franquia como um todo.

Mil anos de guerras, mil anos de história

Parafraseando Larry “Pixy” Foulke, a história do rico mundo de Ace Combat é contada com foco em três tipos de ases (pilotos exemplares): aqueles que querem ser fortes, os que vivem por orgulho e os que podem ler o fluxo da batalha. Os eventos principais da franquia começam com um ás que tinha essas três habilidades. O verdadeiro ás, “Cipher”.

Ace Combat Zero Pixy

No ano de 1995 de acordo com a linha do tempo da série, uma nação chamada Belka iniciou inúmeros conflitos armados com países vizinhos a fim de expandir seu território. Esse foi o início da maior guerra já vista pela humanidade, motivada por uma profunda depressão econômica que levou Belka a tomar medidas desesperadas. Após a ascensão de um partido de extrema direita, o objetivo principal era obter recursos.

A situação do território estopim da guerra era tão séria que parte de sua divisa foi cedida, dando origem a Ustio, um novo país. Com a contínua expansão de um outro poder, além de sua influência, Belka foi invadida culturalmente por Osea, um paralelo pouco sutil com o que foram os Estados Unidos na segunda guerra.

Ace Combat Ustio

Dessa forma, os conflitos contam com várias alegorias de eventos históricos ocorridos no marcante embate dos EUA com a Alemanha, incluindo uma familiar divisão de Belka com um certo muro. Adicionalmente, toda a série também tem referências à guerra do golfo, apesar de serem mais sutis.

Como principal acontecimento, a “Belkan War” foi marcada pelo uso pioneiro de aeronaves como armas de guerra por parte do país, especialista em artilharia aérea. Pegas de surpresa pelo avanço, as nações vizinhas foram rapidamente dominadas e agora dependiam de um contra ataque movido por uma aliança entre Osea e mercenários estrangeiros. Cipher era um desses pilotos, e é o protagonista de Ace Combat Zero.

Ace Combat Belka retreat

Perdendo boa parte de seus recursos bélicos em suas invasões, a investida de Osea e seus aliados foi devastadora para as forças de Belka, forçando-as a recuarem. Por conta da pressão política de movimentos opositores à maneira violenta de resolver os problemas no país, um muro foi erguido separando Belka do norte e Belka do sul, a fim de evitar uma guerra civil.

Com batalhas aéreas como seu maior trunfo, graças a Cipher e seus colegas mercenários agindo como protagonistas na guerra, Osea se preparou para atacar Belka pelo sul. Contudo, suas tropas foram recebidas por uma rendição pacífica da porção rebelde da nação.

Demon Lord

Nesse ponto da guerra, Cipher era conhecido como “Demon Lord” por sua letalidade em batalha, então Belka colocou seu próprio mercenário nos ares para enfrentar a ameaça. Depois de resistir bravamente, com algumas medidas desesperadas no fim, como a detonação de sete bombas nucleares em seu próprio território na tentativa de conter os avanços inimigos, Belka finalmente caiu.

As informações expostas até aqui detalham apenas o início dos principais acontecimentos da série e podem ser vivenciados diretamente em Ace Combat Zero: The Belkan War. Evitando spoilers significativos, os demais jogos contam histórias relacionadas à Belkan War. São explorados conflitos causados no pós guerra ou manobras políticas mal intencionadas que causaram outros combates militares.

Ace Combat 7 Erusea

Não é um simulador de voo

Apesar de representar aeronaves reais e até protótipos, a jogabilidade de Ace Combat se assemelha mais a um “arcade” do que um simulador. Algumas decisões que destoam da realidade foram tomadas para melhorar a narrativa dos jogos, como o fato de poder ouvir o rádio dos inimigos, por exemplo.

Outra característica bem surreal são as velocidades atingidas pelos aviões. Durante os títulos, podemos alcançar mais de 2.000km/h com um F-14 sem qualquer alteração na rigidez dos controles, algo que certamente dificultaria manobrar o avião e está bem próximo da velocidade máxima da aeronave.

Ace Combat 7 F-14

Por fim, dessa vez uma particularidade que chega a ser um defeito, temos o fato de constantemente o quartel general se referir aos adversários como “aeronave não identificada”. Briefings de missão são feitos na vida real com muita preparação, portanto é difícil imaginar que uma nação colocaria aeronaves de ponta no ar contra inimigos “não identificados”. Não há serviço de inteligência ou radares em Osea?

Ace Combat Erusean Princess

Dessa forma, o realismo da franquia fica por conta das nomenclaturas utilizadas, a profundidade dos personagens e a fidelidade no design das aeronaves. Contudo, um fator controverso é o armamento utilizado pelo jogador. Caças como o poderoso SU-57 podem carregar mais de 100 mísseis no jogo… Será que cabem 100 mísseis numa aeronave daquele tamanho?

Ace Combat é uma série que engana à primeira vista, passando-se por um “joguinho de avião”, mas que conta com um enredo vasto, ambientado em um mundo bem construído. Os personagens bem escritos e a maneira majestosa com que se apega a eles sem sequer ver algo além de suas aeronaves e retratos torna a franquia muito carismática.

A variedade de estilos de jogo permitidos de acordo com o avião escolhido tornam a experiência pouco monótona, dando ao jogador sensações e especialidades distintas a cada missão. Se você gosta de jogos com a temática de guerra, mas tem se cansado de tiro em primeira pessoa, talvez Ace Combat seja uma boa pedida.

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Principimi

Estudante de Letras - Japonês na Cruzeiro do Sul; formado em paleografia na oficina Sérgio Buarque de Holanda e em design pela Saga. Prefere jogos narrativos, RPGs ou de ritmo. Atualmente passa horas jogando indies e RPGs no Switch ou sustentando seu vício em gachas de celular. Tem como franquias favoritas Fire Emblem, Pokémon, Persona e Final Fantasy. Enciclopédia humana de Love Live e garota mágica nas horas vagas.