Atelier Ryza | O fascínio e o medo do desconhecido


Com alguns fãs da série Atelier em nossa equipe, a presidente canina da Densetsu decidiu realizar um torneio de alquimia para decidir quem seria o reviewer de Atelier Ryza. É com muito orgulho que eu, o vencedor da competição com uma bomba que quase destruiu a sede do site, vos trago esta análise de um dos melhores jogos da franquia. Obrigado pela receita, Ryza!

Antes de mais nada, devo confessar que eu estava inseguro com o que seria de Atelier Ryza: Ever Darkness & the Secret Hideout, o 21° jogo da série Atelier. O título prometia ser algo bem diferente das obras mais recentes. Boa parte dessa insegurança foi gerada pela abordagem escolhida pelo marketing do jogo que em muitas imagens parecia dar demasiado foco ao corpo da protagonista de forma sensual.

Apesar de ter seus deslizes aqui e ali, a franquia sempre se destacou como um produto original que poderia sustentar-se sem material apelativo do gênero. Felizmente, mesmo com uma personagem vestida de maneira desnecessariamente reveladora, não há sequer uma cena de fanservice durante todo o jogo. Posso garantir isso.

Os aventureiros de Kurken

Reisalin Stout 

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Enérgica e rebelde, Ryza é a protagonista do jogo e somente ela pode ser controlada ao transitar pelo mapa. Diferente das garotas de títulos anteriores, a menina não sabe nada sobre alquimia e sequer ouvira falar sobre até um alquimista chegar em sua ilha.

Em combate, Reisalin é capaz de utilizar golpes físicos com seu cajado, causando um dano razoável; executar ataques mágicos poderosos e, claro, usar itens alquímicos que podem ser tanto ofensivos quanto medicinais. Por oferecer essa versatilidade, é indispensável adaptar suas escolhas à situação da equipe. Os membros dependem da garota não apenas para recuperar seus ferimentos como para contribuir no dano causado.

A protagonista de Atelier Ryza é dublada pela talentosa Yuri Noguchi que também interpretou Benkei em Xenoblade Chronicles 2.

Lent Marslink

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O poderoso espadachim do grupo é um rapaz explosivo e impulsivo que será sua principal fonte de dano físico por boa parte da jornada. Apesar de mostrar-se um possível coadjuvante com personalidade unidimensional, o desenvolvimento de Lent durante a história é notável.

A grande espada do guerreiro causa danos massivos e o mesmo deve ser priorizado no recebimento de curas em geral. Dessa maneira, o potencial de dano do grupo não é sacrificado. Contudo, o personagem não possui ataques mágicos, então é recomendável manter um companheiro usuário de magia por perto.

Lent é dublado por Takuma Terashima, intérprete de Alberti em Record of Agarest War e Thomas Edison em Fate/Grand Order.

Tao Mongarten

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Completamente apaixonado por livros, o pequeno Tao é muito curioso e acaba sendo responsável pela maioria das descobertas importantes ao longo da história. É o personagem menos explorado individualmente, mas adquire muita coragem por parte de seus amigos.

Empunhando um martelo leve de batalha, suas habilidades causam dano razoável e alguns efeitos negativos que enfraquecem os oponentes. O jogo não possui nenhum chefe imune à efeitos de enfraquecimento, o que faz de Tao um combatente muito valioso contra eles.

Tao é dublado por Yui Kondo, que também atuou em Atelier Sophie: The Alchemist of the Mysterious Book como Corneria e no game anterior, Atelier Lulua: The Scion of Arland, como a personagem Mana.

Klaudia Valentz

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Filha de um importante mercador e servindo um chá delicioso como ninguém, Klaudia torna-se a melhor amiga de Ryza em suas aventuras. Ademais, a personagem desempenha um importante papel de suporte emocional no grupo. Sofrendo com um pai muito protetor, a garota reúne toda sua coragem para abrir as asas e tomar suas próprias decisões.

Dominando a linha de trás em batalha, a personagem age como um “bardo”, tocando melodias mágicas que geram efeitos positivos e negativos. Para compensar sua falta de ofensividade em combate, a música possui o maior atributo base de velocidade dentre todos os membros da equipe. A flautista também possui a melhor habilidade de cura do game.

Quando não está tocando sua flauta, Klaudia tem a voz de Hitomi Owada, a Niyah de Xenoblade Chronicles 2.

Empel Vollmer

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Ele parece um vilão, fala como um vilão, tem até ataques de vilão… mas é só um ex-alquimista que gosta de preto. Empel é o “adulto” da equipe, sempre ajudando o grupo a manter o foco no problema em questão e principalmente ensinando alquimia para Ryza. Engenhoso, o personagem sempre se demonstra calmo mesmo diante de situações sérias.

Seu papel em batalha é o do clássico mago, incrivelmente frágil, mas com ataques devastadores. Como a linha de trás da formação no jogo não é invulnerável à ataques, é recomendado ter algum membro com habilidades curativas trabalhando em sinergia com o alquimista para mantê-lo vivo.

Durante boa parte da história, Empel pode parecer um integrante bem secundário na trama, mas existe um motivo muito concreto para tudo que o homem faz aparentemente sem propósito.

A voz do personagem é cedida pelo veterano Hirofumi Nojima, conhecido principalmente por seu trabalho em Pokémon como o líder de ginásio Volkner, mas que também atuou como Hien em Utawarerumono.

Lila Decyrus

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A boa e velha personagem com uma ótima personalidade que jamais precisaria de uma aparência sensual para se destacar mas infelizmente a tem. Lila pode desagradar muitos jogadores por conta da maneira que se veste e pelas suas proporções físicas no mínimo inumanas. Apesar de tudo, a lutadora é tratada com respeito por todos os personagens do game e o próprio jogo não destaca cenas provocativas da mulher.

Suas habilidades em batalha são formidáveis, combinando um alto atributo de velocidade com ataques que causam um dano bem próximo de Lent, mas sem sua fraqueza. A guerreira é especialista em ataques elementais e pode devastar adversários enquanto ataca com suas fraquezas. Para evitar que Lila fosse a personagem mais poderosa do grupo, sua vida máxima e seu atributo de defesa são muito baixos.

Lila é dublada pela talentosa Haruka Terui, intérprete de Shenhua Ling em Shenmue III e Clarissa em Valkyria Chronicles 3.

Só queríamos sair da ilha e olha no que deu…

A história de Atelier Ryza começa com uma garota rebelde que adoraria sair da ilha onde vive para ter uma aventura no continente ao norte de sua terra natal. Para seu azar, deixar a ilha de Kurken rumo ao terreno desconhecido é considerado tabu pela região e fere os costumes locais.

Depois que as tentativas de aventurar-se com seus amigos são repetidamente frustradas pelos adultos da cidade, Ryza decide levar Lent e Tao para sua mais recente descoberta: um porto abandonado com um barco pequeno que possibilitaria ao trio cruzar as águas e alcançar o tão misterioso continente proibido. Em meio aos lamentos medrosos de seu pequeno amigo sobre monstros marinhos e as reclamações de seu amigo maior por ter sido apontado como remador, Ryza finalmente inicia sua aventura.

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Agora em uma terra desprovida de civilização, os três adolescentes encontram ruínas misteriosas e monstros que só apareciam em sua cidade em épocas raras de seca. Voltando a tempo de não serem castigados severamente, Ryza e os outros aprendem que o mundo além dos muros de Rasenboden é muito interessante.

Já com a curiosidade inspirada pela aventura recente, a protagonista e seus amigos são tomados de empolgação com a chegada de dois viajantes que buscam estudar as ruínas locais — o alquimista Empel e a guerreira Lila.

Assim, os adultos e os adolescentes acabam por “usarem” uns aos outros. Enquanto os visitantes se aproveitam da imensa curiosidade dos jovens para obter informações para sua investigação, as crianças pedem diferentes tipos de ajuda para eles: Ryza deseja aprender a arte da alquimia depois de ficar encantada com uma síntese, Tao quer ler a escrita ancestral contida nos livros de sua família, idioma que Empel domina, e Lent pretende se tornar um guerreiro poderoso então passa a receber lições de combate por parte de Lila.

Inicialmente não relacionada com o grupo, Klaudia acaba por integrá-lo quando vê em Reisalin uma amiga e busca inspiração em sua coragem.

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Com o passar do tempo e muitas pequenas aventuras secretas no continente, o grupo descobre que existe uma ameaça indicada pelo aparecimento de monstros estranhamente mais poderosos do que o normal e a iminência de uma nova temporada de seca em Kurken preocupa os personagens que podem sofrer com uma invasão perigosa. Outros sinais estranhos como o desaparecimento da vida marinha local e o surgimento de um dragão muito próximo da costa acabam alarmando toda a população da ilha.

Eventualmente, o povo de Rasenboden começa a desconfiar da suspeita arte alquímica praticada por Empel e agora estudada por Ryza, considerada uma encrenqueira na vizinhança. O preconceito com as técnicas estranhas aos mais velhos e a aparente conexão entre o início dos eventos desastrosos e a chegada de Empel à ilha geram um imenso desconforto na população que passa a tratar os protagonistas de maneira cada vez mais ríspida.

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Essas são as primeiras horas de jogo e, como é típico de RPGs, fica difícil falar da história a partir desse ponto sem entregar spoilers. Assim sendo, o enredo da obra é muito mais do que parece e mesmo não sendo um jogo muito longo (levamos 74 horas para finalizar o game fazendo todas as missões secundárias), os climas entre o início, meio e fim da história são muito distintos e ficam gradualmente mais sérios.

Vale ressaltar que para um título da franquia Atelier, Ryza aborda temas um pouco mais sensíveis do que a série costuma tratar, como alcoolismo, discriminação, desigualdade social e responsabilidade ambiental. Ainda assim, o game não chega a ser um produto muito filosófico e apresenta tais temas de maneira sutil, mantendo a atmosfera agradável da obra.

Nunca foi tão divertido mexer um caldeirão

Ao longo de toda a série, experienciamos diversos sistemas de síntese alquímica, alguns mais complexos e monótonos; outros mais intuitivos. É preciso parabenizar a Gust por ter encontrado o equilíbrio perfeito entre esses dois extremos no novo jogo.

A mecânica de produção de itens no game envolve a escolha de materiais separados por elementos, cada um com um tipo (madeira, minério, líquido, etc.), um nível de qualidade e traços únicos que podem ser passados para o produto final. Ao fabricar uma bomba utilizando um ingrediente que adiciona um efeito de redução de ataque, o jogador tem a possibilidade de criar uma versão aprimorada de um item já conhecido.

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O sistema de aprendizado de receitas para novos itens também é muito simples, exigindo apenas que a alquimista inclua um item de “fora” da receita convencional em uma síntese para obter um resultado diferente, desbloqueando um novo processo alquímico.

A execução de diferentes sínteses leva em consideração a qualidade dos materiais utilizados, a quantidade adicionada de cada um deles e também o nível de proficiência de Ryza. Quanto mais complexo um item for, maior o nível exigido para produzi-lo. O jogador adquire experiência ao realizar qualquer síntese com sucesso e a quantidade de pontos ganha é proporcional ao nível do item em questão.

Uma boa dica para iniciantes no game ou que sequer conheciam Atelier é produzir inúmeros itens de nível alto para acumular experiência e vendê-los para aumentar seu dinheiro no jogo. Esse foi um hábito constante que tive durante minha jogatina e que me garantiu uma boa folga para comprar equipamentos e materiais de alta qualidade, poupando tempo de coleta de matéria prima.

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Caso você se perca na produção de um determinado item, o game oferece um guia bem útil localizado no menu principal. Através dele é possível verificar quais materiais são derrubados por diversos monstros. Analogamente, o jogador também pode checar efeitos de itens alquímicos consumíveis sem a necessidade de produzi-los novamente.

Ao final do processo de criação, uma página com os detalhes do item é apresentada. Nela é possível verificar a qualidade, elemento, nível e os efeitos atribuídos ao produto final.

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Um sistema de batalha dinâmico e divertido

Jogos da franquia Atelier nunca foram um grande expoente no que diz respeito ao seus sistemas de batalha. Ryza prometeu mudanças e tais promessas foram cumpridas com mecânicas de combate incrivelmente divertidas.

Não existe algo como “mana” ou “MP” no game. Ao realizar ataques básicos, o jogador acumula pontos que podem ser gastos em habilidades especiais. Esses pontos são apresentados em um medidor circular que está presente durante todo o combate e deve ser utilizado com inteligência.

Conforme a batalha progride, o medidor pode atingir seu potencial máximo e ter seu nível aumentado pelo jogador. Aumentar o nível das habilidades zera os pontos acumulados, mas desbloqueia novas versões das técnicas de cada personagem.

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Eventualmente, o jogador pode encontrar-se em uma situação tensa onde um inimigo prepara um ataque poderoso. Quando ocasiões como essa se dão em batalhas contra chefes, existem grandes chances da equipe ser aniquilada com um só golpe.

Da mesma forma que o medidor de habilidades pode ser utilizado para atacar, ele pode ser usado para contra-atacar. Ao pressionar o botão R2 no DualShock 4, o jogador pode adiantar o turno do personagem selecionado para executar um ataque especial disponível apenas como contra-ataque. Essas são as técnicas mais poderosas do jogo e causam danos massivos a fim de virar o fluxo do combate à seu favor.

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A princípio, somente Ryza, Lent e Tao são utilizados em batalha, mas posteriormente novos membros entram para o grupo. Com uma formação composta de no máximo três integrantes, é possível definir a formação de batalha pelo menu principal.

O jogador também é capaz de alternar entre personagens durante a batalha, algo que funciona como o modo automático da série Persona. Enquanto o jogador tem um dos membros selecionado, os demais agirão de acordo com atitudes pré definidas que variam de combate passivo (priorizando ataques básicos) à agressivo (abusando de técnicas especiais).

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Similarmente à outros RPGs, Atelier Ryza conta com o já conhecido sistema de linha de frente e linha de trás. Personagens posicionados afrente causam e recebem mais dano enquanto o oposto é válido para a retaguarda. Ataques mágicos não são afetados por esse sistema, permitindo que alquimistas tenham todo seu potencial em qualquer posição.

Ademais, cada personagem pode preencher um papel em combate, como se fossem arquétipos de classe. O jogo oferece as funções de atacante, defensor e suporte, definidas pelo tipo de equipamento e atributos que o mesmo possui.

Muitos erros pequenos em um grande jogo

Como um fã da franquia, posso dizer com honestidade que Atelier Ryza foi o melhor título da série que joguei desde Sophie. Cada personagem principal da trama é encantador e eu realmente senti que estava viajando com o grupo em uma aventura. A qualidade impecável da dublagem e a atenção que cada um deles recebe, deixando de focar somente em Reisalin é um ponto muito positivo.

Embora esses detalhes da jornada de uma alquimista iniciante sejam maravilhosos para um jogo carregado com uma bela história, o game tem problemas muito pequenos que acumulam-se e incomodam bastante. O primeiro que chamou atenção foi o zoom fixo do mini-mapa que é tão próximo que pouco serve para se guiar. No início do game, eram constantes as vezes em que eu me via obrigado a abrir o mapa em tela cheia para me localizar em uma área.

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Outro problema que pode causar discussão entre alguns jogadores é a maneira que Lila se veste. Infelizmente, é comum muitos jogos japoneses incluírem personagens com visual apelativo em seu elenco e Ryza não se salvou dessa triste tendência. É claro que qualquer personagem pode vestir-se da maneira que bem entender, mas fica difícil associar uma guerreira independente e com uma história própria tão interessante à uma roupa que quase deixa suas partes expostas. A proporção do busto de Lila também é algo difícil de lidar.

Da mesma forma que o mini-mapa não oferece as informações necessárias, a coleta de materiais no jogo é uma tarefa árdua quando o jogador procura um certo nível de qualidade em sua matéria prima. Só é possível verificar quantos pontos de qualidade o item coletado tem, abrindo o menu principal e indo até a bolsa de itens.


Atelier Ryza foi uma agradável surpresa dadas às condições de desconfiança que eu tinha. Reisalin e seus amigos me contaram uma história maravilhosa e a Gust teve a competência de implementar um sistema de batalha impressionante.

Como fãs da franquia, esperamos que o próximo jogo seja ainda melhor e continue a merecida evolução da série.

Plataforma utilizada para análise: PlayStation 4 padrão
Análise produzida a partir de uma cópia digital cedida pela Koei Tecmo

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Principimi

Estudante de Letras - Japonês na Cruzeiro do Sul; formado em paleografia na oficina Sérgio Buarque de Holanda e em design pela Saga. Prefere jogos narrativos, RPGs ou de ritmo. Atualmente passa horas jogando indies e RPGs no Switch ou sustentando seu vício em gachas de celular. Tem como franquias favoritas Fire Emblem, Pokémon, Persona e Final Fantasy. Enciclopédia humana de Love Live e garota mágica nas horas vagas.