Silent Hill 2: a obra-prima sutil e simbólica do survival horror | #DensetsuIndica


Medo.

Desde os primórdios, nós seres humanos instintivamente o sentimos. Ativa a adrenalina e serotonina do nosso cérebro, acelera o coração e prepara o corpo para que possamos reagir ao perigo que nos olha de frente ou que pode estar vindo a qualquer momento ao virar a esquina. E onde os nossos maiores medos e traumas ficam escondidos? No subconsciente. O subconsciente humano é um quebra-cabeça gigantesco e surreal, único a cada um de nós e marcado por eventos que presenciamos ou vivemos. E o que isso tem a ver com Silent Hill 2?

Tudo.

Desenvolvido pelo finado Team Silent (uma vertente da Konami responsável pela saga) em 24 de setembro de 2001 para o PlayStation 2, exatamente há 17 anos, Silent Hill 2 conta a história de James Sunderland, um homem de cabelos loiros em seus quase 30 anos, cuja esposa, Mary, lhe envia uma carta dizendo que está o esperando em “seu lugar especial”. Porém, James ressalta um detalhe: Mary está morta há três anos. Então por que aquela carta chegara a ele? E por que ele se sente compelido a ir ao “lugar especial”?

No Densetsu Indica de hoje, vamos apagar as luzes, esperar que todos estejam dormindo e adentrar a realidade deturpada de Silent Hill 2.

Screenshot de Silent Hill 2

Sem encontrar respostas, James se vê procurando por Mary, perdido em uma cidade abandonada e tomada pela névoa, apenas com memórias de um passado distante, equipado apenas com a carta de Mary. Não muito depois de vagar pela cidade, James encontra um rádio portátil, que chia em estática, e ao virar para o lado, James se vê a frente de criaturas humanoides bizarras que povoam a cidade e o perseguem, forçando que James se mantenha em movimento e em fuga, lutando contra a densa névoa que cobre todo lugar.

Screenshot de Silent Hill 2

Explorando e fugindo de lugar para lugar, James conhece algumas poucas pessoas em sua jornada, como Angela, uma mulher que parece instável e perdida em busca de sua mãe, Eddie, um homem que procura se esconder e esquecer do passado, Laura, uma menina em seus menos de 10 anos que parece estar completamente alheia aos perigos e criaturas da cidade, e finalmente Maria, uma mulher misteriosa e sedutora extremamente parecida com sua esposa, Mary.

Depois de encontros e desencontros rápidos e confusos, passando por locais com estruturas surreais e sombrias, James é levado finalmente ao “lugar especial” – o hotel Lake View, onde ele passou a lua-de-mel com Mary quando se casaram. Ali é que James irá encontrar as respostas para o que procura e finalmente encarar a verdade com os próprios olhos…

Screenshot de Silent Hill 2

Silent Hill 2 é um jogo de “survival horror” em terceira pessoa, semelhante a jogos como Resident Evil ou Alone in the Dark, onde o jogador controla James tentando atravessar a cidade sombria e em ruínas tomada pela névoa.

A jogabilidade consiste de exploração, contando com mapas de locais da cidade que lembram muito os que vemos na realidade, como condomínios, hospitais ou clubes noturnos, interagindo com o lugar para procurar pistas sobre a história da cidade, itens para equipar — como um rádio de bolso que chia em estática quando monstros se aproximam — ou abrir novos caminhos e resolver quebra-cabeças para prosseguir.

Para se defender das criaturas que encontra, James pode brandir armas como pedaços de madeira ou canos de ferro e manejar armas de fogo como uma pistola, uma escopeta ou um rifle, todos espalhados em diferentes lugares pela cidade abandonada. Porém, James não é muito habilidoso: os controles de movimentação e de combate definitivamente são um pouco lentos e rígidos, e requerem que o jogador se habitue a algumas limitações. Por exemplo, James não consegue brandir uma arma e correr ao mesmo tempo, leva um tempo para levantar as armas e se recuperar de um ataque, e o jogo não possui nenhum sistema de mira precisa, o que dificulta a ação rápida e favorece uma aproximação mais lenta e metódica. Junte isso com o fato que a munição é limitada, a visibilidade é baixa, os locais são apertados e o rádio está constantemente chiando quando monstros se aproximam — e muitas vezes, não se sabe de onde — e você tem um jogo cujo a tensão é constante!

Screenshot de Silent Hill 2

A ambientação do universo de Silent Hill 2 é fria, sem vida e desolada, envolvida por um tom de cinza sujo sempre presente, pelas construções humanas carcomidas pelo tempo, a névoa densa e constante e os ambientes mal-iluminados, dando um ar melancólico, sombrio e surreal em seus locais, com criaturas que se arrastam, cambaleiam e se contraem de modo antinatural, fazendo com que até o mais simples dos inimigos pareça uma ameaça, baseado unicamente em seu movimento e som.

Falando em som, o jogo é embalado pela trilha sonora ambiente comandada por Akira Yamaoka, compositor da série, traduzindo perfeitamente a atmosfera e o sentimento de cada cena. Todo o clima surreal e enevoado remete a um sentimento similar a uma espécie de sonho, algo que não é sem motivo: Silent Hill 2 é um jogo que transborda em simbologia e detalhes sutis que contam mais sobre os personagens e os ambientes, fazendo alusão aos detalhes que o subconsciente humano reproduz.

Screenshot de Silent Hill 2

Por exemplo: James veio atrás de sua esposa. No decorrer do jogo, é informado que ela estava doente antes de morrer, e por conta disso, James não podia manter contato direto com ela. Durante o jogo, James se vê de frente a uma mulher misteriosa e sedutora que tem uma semelhança muito grande à sua esposa, e as criaturas que aparecem para o protagonista têm uma semelhança distinta a uma silhueta feminina, incluindo enfermeiras com roupas curtas e decote visível.

Em outra cena, James entra em uma sala onde Angela está deitada à frente de um espelho, com uma faca em mãos e uma expressão melancólica. Quando James pergunta se está tudo bem, ela se assusta, pede desculpas e sai correndo da sala, como se houvesse sido ameaçada, mesmo não sendo o caso.

Começando a fazer sentido?

Screenshot de Silent Hill 2

Esses são apenas alguns dos exemplos de simbolismo. Vários itens, pistas e locais comumente possuem sutis referências aos ambiente em que se encontram e com um pouco de reflexão, as coisas começam a fazer sentido, e nada é explicado diretamente: Tudo fica para a interpretação do jogador, e essa é uma das maiores qualidades de Silent Hill 2: sua capacidade de contar histórias sem palavras e deixar que os jogadores juntem as peças desse grande quebra-cabeça sozinhos.

Essa é a palavra-chave de Silent Hill 2: sutileza.

Para dar uma ideia, um típico “jumpscare” (momento que o jogo te dá um susto repentino) de um jogo como Resident Evil ou Dead Space teria algo inesperado acontecendo com um barulho estrondoso, como um zumbi quebrando um vidro de uma janela em uma sala quieta. Em Silent Hill, um exemplo de “jumpscare” seria entrar em uma sala, ver que tem uma criatura que você nunca viu olhando pra você em um lugar inalcançável, e assim que você sai da sala, ela desaparece completamente. E spoilers: você provavelmente não vai ver ela de novo por um LONGO tempo…

Screenshot de Silent Hill 2

Porém, mesmo com toda a sua genialidade, o jogo ainda tem seus pontos ruins: a movimentação rígida, mesmo que intencional, pode afastar alguns jogadores. O jogo é bem confortável para um survival horror (se você tiver paciência e racionar normalmente seus itens, você não vai estar em perigo), o que pode ser ruim para fãs do gênero, e por fim, a maneira mais fácil de conseguir o jogo está na Silent Hill HD Collection, para PlayStation 3 e Xbox 360, que possui vários problemas visuais como um grão fotográfico muito forte, texturas e polígonos mal-acabados, uma redução drástica na qualidade da névoa presente no jogo original, e sérios problemas de taxa de quadros caindo, apesar de que a versão de PS3 já possui um patch que conserta alguns desses problemas.

Screenshot comparando os gráficos do Silent Hill 2 original com o presente na coletânea Silent Hill HD Collection

Silent Hill 2 é um clássico amado por fãs da franquia e do gênero survival horror, e uma verdadeira lição em sutileza e detalhes que infelizmente não recebe mais a devida atenção pela Konami, mas que sempre será lembrado pelos jogadores. O jogo leva em torno de 12 horas para terminar, contando com vários finais diferentes que dependem de algumas ações que você toma no decorrer do jogo, incluindo armas e equipamentos de bônus após terminar alguns finais, um final especial envolvendo alienígenas e um cachorro da raça shiba inu, e um capítulo adicional em Silent Hill 2: Restless Dreams e em Silent Hill HD Collection contando um pouco mais sobre a história de Maria.

Outubro e o dia das bruxas estão chegando, uma época que pede um jogo de survival horror, e Silent Hill 2 é um jogo perfeito para a ocasião.

Artigo escrito por: Ítalo Magno

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