Quando o assunto é desenvolvedores completamente pirados (no melhor sentido possível), a maioria dos nomes que vêm à cabeça são japoneses, né? O mais óbvio, claro, é Hideo Kojima — criador de Metal Gear e Death Stranding —, mas outro favorito entre os fãs é Yoko Taro, aquele cara que vive aparecendo em público com uma cabeça de lua e que está por trás das franquias Drakengard e NieR.
À primeira vista, os jogos do Taro até parecem relativamente normais. Mas é só começar a jogar pra perceber que a insanidade criativa dele não demora a aparecer. De mudanças bruscas no estilo de gameplay, passando por humor negro e situações nonsense, até finais completamente absurdos (e emocionantes), fica claro que as obras dele não seguem as regras tradicionais da indústria.

Mas, mesmo com o sucesso de NieR: Automata em 2017, parece que esse espírito caótico e autoral não contagiou tanto os jogos de grande orçamento. Segundo o próprio Yoko Taro, está cada vez mais difícil encontrar gente “esquisita” fazendo games. Numa sessão recente de perguntas e respostas com fãs, ele comentou:
“Estou na indústria dos jogos há 30 anos, mas sinto que hoje existem menos pessoas esquisitas. Não sei se isso é algo que só estou percebendo do meu ponto de vista, se a indústria ficou assim mesmo, ou se o mundo inteiro está mudando desse jeito.”
Na verdade, jogos esquisitos — provavelmente feitos por pessoas igualmente esquisitas — continuam surgindo, principalmente no cenário indie e AA. Títulos como Undertale, Doki Doki Literature Club ou qualquer coisa criada por Suda51 (No More Heroes) mostram que ainda tem muita gente disposta a sair do padrão e apostar em ideias completamente insanas.
Por outro lado, na indústria AAA, dos blockbusters com orçamentos milionários, o clima é bem mais contido. As grandes desenvolvedoras, de modo geral, preferem jogar seguro. Em um ambiente onde decisões envolvem bilhões de dólares, é compreensível (ainda que frustrante) que se evite arriscar com jogos muito fora da curva. Com exceção de algumas ousadias da Sega com a franquia Yakuza, é raro ver uma gigante mergulhar de cabeça em uma proposta tão maluca.

O próprio Yoko Taro, nos últimos anos, tem seguido pelo caminho dos títulos de menor orçamento, incluindo projetos mobile como SINoALICE e NieR Re[in]carnation. Seu trabalho mais recente foi Voice of Cards, uma trilogia de RPGs lançada para PlayStation 4, Switch, PC e dispositivos móveis. Embora interessantes, esses jogos talvez não sejam exatamente o que os fãs de NieR:Automata mais esperavam do criador.
Claro, isso não significa que ele não esteja trabalhando em algo maior nos bastidores, em parceria com a Square Enix. Só podemos esperar para ver se estão dispostos a investir um pouco mais na loucura de novo.