Desde que os apps começaram a ganhar espaço no mercado de jogos há pouco mais de uma década, estúdios japoneses apostaram forte nos “games sociais”, títulos focados em personagens colecionáveis e monetização via mecânicas gacha. Por muito tempo, esse formato viu grande sucesso, com pioneiros como Fate/Grand Order e Puzzle & Dragons ainda mantendo números impressionantes.
Entretanto, nos últimos anos, esses jogos vêm passando por uma tendência preocupante, com encerramentos se tornando cada vez mais frequentes. Alguns títulos não chegam a durar sequer um ano no ar. Estaríamos vendo uma mudança no rumo da indústria mobile japonesa?
Um bom exemplo vem da gigante Square Enix, que entrou na arena mobile com diversos títulos baseados em suas franquias mais famosas. Mesmo com nomes como Final Fantasy, Dragon Quest e Kingdom Hearts, a empresa também acabou tendo que dar um fim a muitos projetos, com suas casualidades mais recentes sendo Final Fantasy Brave Exvius, Dragon Quest of the Stars e Kingdom Hearts Missing-Link, esses dois primeiros no ar desde 2015 e o último nem chegando a ser lançado.



O cenário está tão preocupante que até veteranos da área começam a demonstrar preocupação, como é o caso do diretor de jogos mobile Suemaru. Em uma longa postagem na rede social X, ele comparou a atual situação da indústria a um navio afundando:
“Ficar nessa indústria significa se agarrar a um número limitado de timoneiros num navio afundando. Talvez nem tudo vá para o fundo, mas a quantidade de assentos que continuarão flutuando vai diminuir.”
No mesmo texto, Suemaru também revelou sentir que sua carreira chegou ao limite, com nenhuma perspectiva de crescimento na área.

Seria hora, então, de migrar para o desenvolvimento de games para consoles? Bem… não é tão simples assim. Como aponta Alwei, representante da Indie-Us Games, abandonar o navio é complicado. Diferente de artistas e programadores, que têm maior facilidade para se adaptar, diretores de jogos mobile enfrentam barreiras bem maiores para migrar para consoles. Estúdios valorizam especialistas em gameplay complexo e gráficos avançados, além de lidar com checagens técnicas rigorosas impostas por donas de plataformas.
Enquanto isso, jogos mobile japoneses costumam ter um foco maior em manutenção de servidores online, com a jogabilidade e os gráficos geralmente em segundo plano. Diretores que construíram a maior parte de suas carreiras nos games sociais, como é o caso de Suemaru, agora enfrentam uma situação bem difícil, já que suas habilidades não são facilmente transferíveis para títulos de console ou outras áreas. Como comenta o JohnnyGameStudio:
“É bem difícil para quem ocupa cargos de planejamento conseguir emprego em empresas de jogos para smartphones. Os salários são decentes, mas, ao contrário de design ou programação, as habilidades necessárias são difíceis de transferir para jogos pagos ou outras indústrias, então não conseguem mudar de emprego. Mas também está muito difícil contratar em empresas de games mobile. Sinto que estou estagnado, sem saber o que fazer.”

Em 2024, o valor do saturado mercado de jogos mobile no Japão viu um declínio de mais de 30% em comparação a 2023, enquanto o custo para desenvolver esses títulos continua crescendo. Para piorar, a China e a Coreia do Sul vêm entregando games de alto orçamento e jogabilidade digna de consoles, colocando os simples títulos japoneses de coleção de ilustrações em desvantagem.
A indústria mobile japonesa pode mesmo se parecer com um navio afundando, e apenas alguns conseguirão escapar nos botes. Como é a tradição, os capitães, aqueles que traçam a rota e comandam o barco, devem ser os últimos a abandoná-lo, mas, neste caso, eles podem acabar afundando junto.
No fim, os estúdios japoneses focados em mobile precisam puxar um SSR para sobreviver, porque os tiers comuns já não satisfazem mais. Mas, como todo gacha, os tickets são limitados, e só o tempo dirá se veremos um grande update… ou mais um end-of-service.
Fontes:
AUTOMATON WEST
suemaru
alwei
ジョニー@多分ゲームプログラマー
ASCII Japan